quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Informática x Educação
"O conhecimento não pode ficar restrito ao simples aprendizado adquirido nas tradicionais salas de aula; só o exame crítico desse conhecimento leva à descoberta. É preciso buscar novas dimensões para o uso de tecnologias, através de uma visão democrática e coerente da realidade brasileira. (LIA SILVA, apud NISKIER 1993, p. 68 - apud OLIVEIRA NETTO, Alvim Antônio de. Interação Humano Computador ).
A História da Informática na Educação no Brasil data de mais de 20 anos. Nasceu no início dos anos 70 a partir de algumas experiências na UFRJ, UFRGS e UNICAMP. Nos anos 80 se estabeleceu por meio de diversas atividades que possibilitaram que essa área hoje tivesse uma identidade própria, raízes sólidas e relativa maturidade. Apesar dos fortes apelos da mídia e das qualidades inerentes ao computador, a sua dispersão nas escolas está hoje abaixo do que se anunciava e se desejava. A informática na educação ainda não penetrou as idéias dos educadores e, por isto, não está firmada no nosso sistema educacional.
Como marco do novo milênio, temos a internet que, a partir de 1995, penetrou no mercado, iniciando uma nova revolução, a revolução digital, a era da inteligência em rede, na qual seres humanos combinam sua inteligência, conhecimento e criatividade pra revoluções na produção de riquezas e desenvolvimento social. Essa revolução atinge todos os empreendimentos da humanidade – aprendizagem, saúde, trabalho, entretenimento. (TAPSCOTT, 1997).
O proveito do computador em relação aos demais recursos tecnológicos, no âmbito educacional, está relacionado à sua característica de interatividade, à sua grande probabilidade de ser um instrumento que pode ser utilizado para promover a aprendizagem individualizada, visto que ele só executa o que se ordena, assim sendo, limita-se aos potenciais e anseios humanos.
Através dos softwares abertos, mais especificamente, os editores de texto, é possível desenvolver várias atividades que instigam as habilidades lingüísticas, tais como a escrita e a leitura, promovendo diferentes tipos de produções. Os softwares de simulações e de programação são extraordinários recursos computacionais que possibilitam o aprimoramento das habilidades de lógica, matemática e de resolução de problemas.
Os softwares gráficos estimulam o desenvolvimento das habilidades pictóricas, além de disponibilizarem uma série de recursos que facilitam a criação de desenhos e representações artísticas. O grande "trunfo" do computador é sua característica interativa com o meio, através dele é possível integrar diversas mídias e demais recursos tecnológicos, desde o rádio, a televisão, os vídeos, as filmadoras. Sendo um recurso perfeito para trabalhar sons e, ainda torná-los visuais conforme as descrições de seus compassos, medidas dos ritmos sonoros.
Informática e aprendizagem
Para incorporar a tecnologia no contexto escolar, é necessário:
·Verificar quais são os pontos de vista dos docentes em relação aos impactos das tecnologias na educação;
·Discutir com os alunos quais são os impactos que as tecnologias provocam em suas vidas cotidianas, e como eles se dão com os diversos instrumentos tecnológicos;
·Integrar os recursos tecnológicos de forma significativa com o cotidiano educacional.
A informática contribui pra o desenvolvimento das habilidades de comunicação e de estrutura lógica de pensamento. O importante, ao utilizar um dos recursos tecnológicos à disposição das práticas pedagógicas, é questionar o objetivo que se quer atingir, avaliando sempre as virtudes e limitações de tais recursos.
Levando em questão as indagações: "Quando usar a tecnologia em sala de aula, e como utilizar estes novos recursos?", respondendo estas perguntas deve-se levar em conta um critério: a tecnologia deve ser usada na classe a serviço dos conteúdos. Isso exclui, por exemplo, as apresentações em Power Point que apenas tornam as aulas mais diversificadas (ou não!), os jogos de computador que só entretêm as crianças ou aqueles vídeos que simplesmente cobrem buracos de um planejamento malfeito. "Do ponto de vista do aprendizado, essas ferramentas devem colaborar para trabalhar conteúdos que muitas vezes nem poderiam ser ensinados sem elas", afirma Regina Scarpa, coordenadora pedagógica da Revista Nova Escola, cujo tema foi sobre a tecnologia que dá oportunidades de ensino.
Mas é preciso avaliar se as oportunidades são significativas. Isso ocorre, por exemplo, quando as tecnologias colaboram para enfrentar desafios atuais, como descobrir informações na internet e se localizar em um mapa virtual.
Neste momento, é importante alfabetizar o aluno na tecnologia, ou seja, auxiliar o indivíduo a aprender a usar, descrever, refletir e explicar o funcionamento dos recursos tecnológicos e não dos equipamentos. Isso significa pesquisar e transformar nossos equipamentos informáticos para desenvolver novos sistemas; usar a tecnologia para compreender a tecnologia da Física, da Química, da Matemática, e não mais a história do computador, rudimentos de lógica simbólica, noções de sistema numérico binário ou comandos da linguagem de programação. A gestão da escola precisa estar voltada para facilitar os processos de aprendizagem, não só dos alunos, mas de todos os seus membros, aprimorando constantemente os mecanismos de gestão e de ensino-aprendizagem.
Porém vale ressaltar que inúmeras escolas não têm utilizado a informática de forma adequada e a favor do processo de ensino aprendizagem, deixando os computadores já ligados e com os programas acessados, para que os alunos, ao chegar ao ambiente de informática, de forma mecânica, utilizem as opções do programa. Desta maneira, o aluno não realiza nenhuma prática de ligar o computador, abrir os programas, portanto não percebe o conjunto das relações existentes entre as utilidades reais do computador e a técnica em si. O professor precisará ficar atento para uma real adequação dos softwares às suas ações na sala de aula. Muitos acreditam que só por estarem utilizando softwares educacionais já estão efetuando a prática da informática educativa.
O uso da tecnologia computacional na educação é indiscutível como necessária, seja no sentido pedagógico, seja no sentido social. Não compete mais à escola: preparar o aluno apenas nas habilidades de linguística e lógico-matématica, apresentar o conhecimento e valorizar apenas a memorização. Atualmente, com o novo conceito de inteligência, em que as pessoas podem desenvolver suas diversas habilidades, o computador aparece num momento bastante oportuno, inclusive para facilitar o desenvolvimento dessas habilidades (lógico-matemática, interpessoal, intrapessoal, espacial, musical, corpo-cinestésica, naturista e pictórica).
É importante lembrar que apenas a inclusão da tecnologia na escola não é indicação de mudança. O aluno, ao usar o computador para realizar tarefas (agora bem apresentadas, coloridas, animadas etc.), não indica que ele compreendeu o que fez. A qualidade da interação aprendiz-objeto, descrita por Piaget, é particularmente pertinente no caso do uso da informática e de diferentes softwares educacionais.
Pontos negativos do uso tecnológico
"No caso da escola, não deve o computador substituir o professor. A máquina deve isso sim, constituir-se num instrumento auxiliar, que dará ao professor mais tempo para a realização de outras tarefas que somente ele deve cultivar nos jovens. Desse modo, caberá cada vez mais à escola ensinar à criança e ao jovem o manejo desse equipamento". (NISKIER, 1993, p. 110 - apud OLIVEIRA NETTO, Alvim Antônio de. Interação Humano Computador)
Segundo Valdemar W. Setzer, em seu livro "Meios eletrônicos e educação: uma visão alternativa", o mau uso do computador induz a indisciplina, as crianças não tem autocontrole suficiente para dominar-se, direcionado e restringindo o uso do computador. Além disso, a indução de indisciplina é exatamente o oposto de algo que a educação quer obter. Segundo ele, a educação deveria ter como um de seus mais elevados objetivos desenvolver vagarosamente os pensamentos, de maneira que eles se tornem livres e criativos na idade adulta. Isso não acontece se são enquadrados muito cedo em formas rígidas e mortas, como as que exigem todas as máquinas, e muito mais os computadores, que trabalham unicamente ao nível mental estritamente formal.
Este autor relata que devido à enorme autodisciplina que o computador exige, e ainda baseado em suas experiências com alunos do ensino médio, chega a conclusão de que a idade ideal para um jovem começar a usar um computador é 16 anos, preferivelmente, 17 anos.Para se considerar o uso de computadores na educação é também absolutamente necessário ter-se um modelo de desenvolvimento das crianças e dos jovens. É necessário introduzir o computador nas escolas, mas para ensinar a usá-lo e compreendê-lo; o importante ensinar o princípio do funcionamento dessas e de outras máquinas, para que elas não sejam um mistério. Além disso, devem-se abordar seus efeitos positivos e negativos, levando a um uso crítico delas.
Os professores encaram o computador como a ferramenta que finalmente pode levar os alunos a estudar. Pelo menos há uma vantagem trazida pelo fascínio que crianças têm pelos computadores usados na educação. Talvez o maior serviço do computador na educação tenha sido tornar óbvio o que os críticos da educação têm afirmado e as pesquisas sobre o declínio dela têm mostrado há décadas: professores malformados, com falta de entusiasmo, e falta de amor pelos alunos, usando métodos deficientes, baseados em filosofias ou teorias educacionais que são mais elucubrações mentais do que reflexões impregnadas de realidade e, no Brasil, salários aviltantes, produzem um ensino maçante a até massacrante. O computador pode ser considerado o alarme para todos ouvirem: é um absurdo que uma máquina possa ser mais interessante e atrair mais a atenção do que um ser humano se tiver a sensibilidade e a criatividade que deveria ter como professor.
Instituir mudanças na escola, adequando-a as exigências da sociedade do conhecimento, constitui hoje um dos maiores desafios educacionais (HARGREAVES, 1995). A escola é um espaço de trabalho complexo, que envolve inúmeros outros fatores, além do professor e dos alunos. A introdução de novas idéias depende, fundamentalmente, das ações do professor e dos seus alunos. Porém essas ações, para serem efetivas, devem ser acompanhadas de uma maior autonomia para tomar decisões, alterar o currículo, desenvolver propostas de trabalho em equipe e usar novas tecnologias da informação.
Sabemos que o computador é uma ferramenta, e que sozinha nada pode fazer, se esta for utilizada de forma maçante, para os professores fingirem que estão ensinando e os alunos fingirem que estão aprendendo, jamais haverá um crescimento de uma aprendizagem significativa.
Formação/Capacitação dos professores
Educar significa "assumirmos a responsabilidade" da nossa ação no mundo em que vivemos, conscientizando sobre as práticas humanas à natureza, relação entre os seres, sobre nossa vida em comum e nossos atos. Sendo assim, a escola, como instituição de formalização do saber, repensa atualmente seu papel diante da realidade do mundo. O ambiente escolar deveria ser um ambiente favorável para se discutir, com critérios e reflexão toda a informação existente na sociedade visto que o indivíduo convive em uma sociedade repleta de informações imediatas, superficiais e rápidas.
Esse grande progresso tecnológico causa muitas vezes insegurança nos professores, que num primeiro momento temem sua substituição por máquinas e programas capazes de cumprir o papel antes reservado para o ser humano. Mas o computador pode realmente provocar uma mudança no paradigma pedagógico e também por em risco a sobrevivência profissional daqueles que concebem a educação como uma simples operação de transferência de conhecimentos do mestre para o aluno. (VALENTE, 1993).
Nesta situação, o papel do professor ao lado de seus alunos torna-se extremamente necessário, estimulando o pensamento crítico, relacionando os fatos com o cotidiano da sala de aula, resgatando a experiência vivida e buscando a veracidade desses fatos e os seus reflexos no dia-a-dia. Os computadores inserem-se na escola dentro de um contexto mais amplo, que é a tecnologia educacional.
Um dos fatores principais para obtenção do sucesso na utilização da informática na educação é a capacitação do professor, de tal forma que este perceba como deve efetuar a integração da tecnologia com a sua proposta de ensino. Cabe a cada professor descobrir a sua própria forma de utilizá-lo conforme o seu interesse educacional, pois, como já sabemos, não existe uma forma universal para a utilização dos computadores na sala de aula.
O que se espera com a utilização do computador na educação é a realização de aulas mais criativas, motivadoras, dinâmicas e que envolvam os alunos para novas descobertas e aprendizagem. A escola tem importante papel a cumprir na sociedade, ensinando os alunos a se relacionarem de maneira seletiva e crítica com o universo de informações a que têm acesso no seu cotidiano. É importante que a escola tenha um projeto pedagógico que envolva a utilização do computador e seus recursos, sendo que, o aluno não pode ser um mero digitador, mas sim, ser estimulado a produzir conhecimentos com o uso da tecnologia. Neste sentido, o professor deve agir como um orientador do projeto que está sendo desenvolvido.
De nada adianta pedir para um aluno fazer uma pesquisa na Internet sem as devidas orientações. Cabe ao professor instruir os alunos para que estes não façam simples cópias de textos encontrados em sites porque apenas copiando, os alunos não vão aprender. As orientações devem ser no sentido de como elaborar uma pesquisa, como encontrar sites confiáveis, como gerar conhecimentos com o material pesquisado, etc. O pouco contato com o computador, também pode constituir-se um problema para as pessoas, pois no cotidiano são muitas as situações que exigem esse conhecimento tecnológico.
O professor como mediador do saber, deve estar aberto para as mudanças, principalmente em relação à sua nova postura: o de facilitador e coordenador do processo de ensino-aprendizagem; ele precisa aprender a aprender, esforçar-se para lidar com as rápidas mudanças, ser dinâmico e flexível. Acabou a esfera educacional de detenção do conhecimento, do professor "sabe tudo".
A partir da capacitação significativa do professor quanto à utilização de diferentes programas e ao entendimento das características dos softwares, ele estará apto a planejar atividades educacionais, e, utilizando o computador como instrumento de planejamento de atividades, ele poderá elaborar projetos ou planos de aula.
A capacitação do professor deverá envolver uma série de experiências e conceitos, tais como: conhecimentos básicos de informática; conhecimento pedagógico; integração de tecnologia com as propostas pedagógicas; formas de gerenciamento da sala de aula com os novos recursos tecnológicos em relação aos recursos físicos disponíveis e ao "novo" aluno, que passa a incorporar e assumir uma atitude ativa no processo; revisão das teorias de aprendizagem didática, projetos multi, inter e transdisciplinares.
Além da apropriação dos recursos da informática, a formação docente deve provocar reflexões sobre como, quando e por que utilizar o computador, já que a nova meta da formação é o professor crítico e criativo. Nesse contexto, o computador não pode ser visto como "modismo", mas como uma ferramenta para promover a aprendizagem. Dentro dessa perspectiva, a formação dos educadores deve favorecer uma reflexão sobre a relação entre teoria e prática e propiciar a experimentação de novas técnicas pedagógicas. Isso não significa jogar fora as velhas práticas, mas sim se apropriar das novas para promover a transformação necessária.
O maior problema não diz respeito à falta de acesso à informação ou às próprias tecnologias que permitem o acesso, e sim à pouca capacidade crítica e procedimental para lidar com a variedade e quantidade de informações e recursos tecnológicos. Conhecer e saber usar estas tecnologias implica na aprendizagem de procedimentos para utilizá-las e, principalmente, habilidades relacionadas ao tratamento da informação. Capacidade para criar e comunicar-se por esses meios.

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